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Uma das últimas novidades a invadir o arraial evangélico brasileiro chegou da Colômbia. Denominado G 12 (Grupo 12), é um movimento que propõe o crescimento das igrejas através de células, com reuniões nas casas. O principal protagonista do G 12 é César Castellanos Domínguez, líder da Missão Carismática Internacional, com sede em Bogotá. Entre 1989 e 1990, sua esposa Cláudia (com quem se casou em 1976) envolveu-se com a política, sendo candidata a presidência daquele país, ficando em quinto lugar no número de votos. Mais tarde, ela conseguiu eleger-se senadora. O casal tem quatro filhas: Joana, Lorena, Manuela e Sara Ximena.
Castellanos conta que depois de sua experiência com Cristo e de trabalhar como evangelista nas ruas de Bogotá, teve a oportunidade de pastorear pequenas igrejas, durante nove anos de ministério. A última delas só tinha 30 membros quando ali chegou, alcançando dentro de um ano, o número de 120 membros. Insatisfeito com os resultados conseguidos nessa igreja, renunciou ao pastorado.
Em fevereiro
de 1983, enquanto passava férias numa praia colombiana, diz ter tido uma experiência
com Deus, que o chamava para pastorear. No mês seguinte, iniciou na sala de sua
casa, a Missão Carismática Internacional, com apenas oito pessoas. Traçou
depois um alvo para atingir o número de 200 membros. O líder colombiano
confessa que foi grandemente influenciado por David (Paul) Yonggi Cho, da Coréia,
que já vinha adotando por várias décadas o sistema de crescimento de igreja
em células (também chamado de grupos familiares). Atualmente são muitos
milhares que formam a família da igreja na Colômbia. Para o final de 1997, a
meta de Castellanos era ter 30 mil células e 100 mil grupos. No ano 2000, seu
alvo é ter um milhão de membros. Já pensou?
Já existem no Brasil várias pessoas e ministérios que abraçaram a visão de César Castellanos. Os que mais se destacam são Valnice Milhomens, muito conhecida pelos seus programas de TV e Renê Terra Nova, líder da Primeira Igreja Batista da Restauração, em Manaus. A exemplo de Valnice, Renê já pertenceu também a Convenção Batista Brasileira. Valnice explica sua ligação com a Colômbia:
César Castellanos explica porquê:
“Pedi a direção do Senhor, e Ele prometeu dar-me a capacidade de preparar a liderança em menos tempo. Pouco depois abriu um véu em minha mente, dando-me entendimento em algumas áreas das Escrituras, e perguntou-me: 'Quantas pessoas Jesus treinou?' Começou desta maneira a mostrar-me o revolucionário modelo da multiplicação através dos doze. Jesus não escolheu onze nem treze, mas sim doze”.2
Outros
exemplos bíblicos são citados, como as 12 pedras no peitoral do sacerdote (Êx
28.29); também com 12 pessoas Jesus alimentou as multidões. Para reforçar o
argumento de Castellanos, Valnice acrescenta:
“Podemos notar que o número doze, nas Escrituras, é o número de autoridade e governo... O dia tem 24 horas, que são dois tempos de doze. Cada ano tem doze meses. O relógio não pode ser de 11 ou de 13 horas. Deve ser de doze horas, para que possamos administrar o tempo. Não foi um capricho de Jesus escolher doze homens. Ele sabia que estava ali a plenitude do ministério. Os fundamentos requeriam doze apóstolos”.3
Penso que não
há necessidade de se criar uma aura mística ao redor do número doze, pois há
outros números na Bíblia que também despertam a atenção. Pense, por exemplo
no número três. Três é o número da Trindade. Três foram os presentes que
os magos do Oriente ofertaram a Jesus. Três foram os principais patriarcas:
Abraão, Isaque e Jacó. Três foi o número dos discípulos mais íntimos de
Jesus: Pedro, Tiago e João. O número sete também é bastante sugestivo. Em
sete dias Deus fez o mundo. Durante sete dias, o povo de Israel marchou em volta
da cidade de Jericó, até conquistá-la. Instruído por Eliseu, Naamã
mergulhou sete vezes no rio Jordão para ser curado de lepra. Sete foi o número
dos diáconos escolhidos pelos apóstolos (Atos 6.5). Sete foram também as
igrejas do Apocalipse. Agora, pense no número 40. Por 40 o povo de Israel
peregrinou no deserto. Moisés esteve no monte durante 40 dias, jejuando e
orando na presença de Deus. Jesus jejuou 40 dias no deserto, por ocasião de
sua tentação.
A igreja se divide em pequenos grupos denominados células. As pessoas são evangelizadas através das células, das reuniões na igreja ou de eventos evangelísticos. Depois de evangelizadas, começa o processo de consolidação. O novo adepto responderá um questionário chamado mapeamento espiritual, com uma grande variedade de perguntas sobre o passado da pessoa e de seus familiares. Algumas perguntas são bastante constrangedoras. Tal questionário vai dar ao líder da célula ou ao discipulador uma visão da jornada espiritual do novo discípulo. Em seguida, ele será levado a participar da célula, passando a construir novos relacionamentos.
Após esse processo inicial, a pessoa é estimulada (e muito) a passar pelos seguintes estágios:
2. Encontro. Um retiro espiritual de três dias, onde a pessoa receberá ministração nas áreas de arrependimento, perdão, quebra de maldições, libertação, cura interior, batismo no Espírito Santo e a visão da igreja. Cerca de 100 pessoas (jovens, mulheres, homens e crianças) são separadas um ou dois meses após a sua entrega na igreja e são levadas a um lugar distante do contexto familiar para serem ministradas Para César Castellanos, o encontro eqüivale a todo um ano de assistência fiel a igreja.4
3. Pós Encontro. Quatro palestras para consolidação das vitórias alcançadas no Encontro.
4. Escola de Líderes. Formação em três estágios de três meses cada para se tornar Líder de célula e de grupo de doze.
5. Envio. Quando alguém começa uma célula de evangelismo a partir de três pessoas, tornando-se líder de célula. Depois de sua célula consolidada, ele começa a formação do seu grupo de doze para discipulado, tornando-se líder de doze. Consolidado seu grupo de 12, ele estimula a cada um a formar seu grupo de doze. Surge então o líder de 144, e assim por diante.
Um dos problemas em relação ao G 12 é a inserção de práticas, conceitos e ensinos nada bíblicos, tais como quebra de maldições hereditárias, cura interior, mapeamento espiritual, escrever os pecados em pedaços de papel e queimá-los na fogueira, revelações extrabíblicas e outros. No meu livro Evangélicos em Crise (Editora Mundo Cristão), tratei, de forma abrangente, de algumas dessas aberrações.
Outra coisa intrigante é a proibição taxativa de relatar o que se passa nos encontros. Conversei com várias pessoas que participaram e elas me falaram que a única coisa que poderiam dizer do encontro é: “o encontro é tremendo”. Observe uma das normas do Encontro: “Não se pode mencionar muitas coisas sobre o Encontro, porque o mesmo trás consigo muitas surpresas e todos os seus participantes comprometem-se a não revelar absolutamente nada do que receberam lá.”5
Acho isso
realmente muito estranho. Ora, quando alguém recebe bênçãos de Deus, quando
Deus faz uma grande obra numa pessoa ou no meio de um povo, o mais natural e bíblico
é dar testemunho, é contar o que Deus fez.
Tal proibição não tem base bíblica. Ao contrário. Observe a declaração
de Jesus diante do sumo sacerdote: “Respondeu-lhe Jesus: Eu falei abertamente
ao mundo; sempre ensinei nas sinagogas e no templo, onde todos os judeus se reúnem.
Nada disse em segredo” (João 18.20). Paulo escreveu a Timóteo: “E as
coisas que me ouviu dizer na presença de muitas testemunhas, confie a homens fiéis
que sejam também capazes de ensinar a outros” (2 Timóteo 2.2). Portanto, não
há por que ficar escondendo informações dos demais. Isso mais parece “maçonaria
evangélica”.
O G 12 assume também uma postura exclusivista. Ele é apresentado como a única tábua de salvação para a igreja, o último movimento de Deus na terra, a única solução para a salvação das almas. É apresentado ainda como a restauração da Igreja segundo o seu modelo original no livro de Atos dos Apóstolos. David Kornfield, da Sepal, declarou:
“Notamos que Deus está produzindo um novo mover do Seu Espirito no seio da Igreja brasileira, à medida que nos aproximamos de um novo milênio. Esse mover do Espírito é tão grande que algumas pessoas o entendem como uma Segunda reforma. A primeira reforma, deflagrada por Martinho Lutero, tinha a ver com a justificação pela fé e com a salvação individual. A Segunda Reforma celebra e desenvolve a alegria de sermos salvos a nível coletivo; salvos para, reciprocamente, vivenciarmos a alegria da vida em Cristo”.6
César Castellanos confirma tal exclusivismo ao declarar: “A frutificação neste milênio será tão incalculável, que a colheita só poderá ser alcançada por aquelas igrejas que tenham entrado na visão celular. Não há alternativa: a igreja celular é a igreja do século XXI”.7
Nem certos movimentos e líderes de Deus no passado escapam dos ataques do G 12. Valnice Milhomens denomina a Igreja da época do imperador romano, Constantino, de “igreja política”, dizendo que Constantino relegou oficialmente o vinho novo aos odres velhos das catedrais. Sobre a Igreja Reformada, ela diz que Lutero reformou o vinho (teologia) mas o derramou novamente nos odres velhos. Para ela, o movimento de avivamento procurou reavivar o vinho dentro dos odres velhos. Os pentecostais e os carismáticos derramaram o vinho do Espirito Santo dentro dos odres velhos. Quanto a Igreja em Células, sua opinião é de que Deus está recriando modelos de comunidade de odres novos que preservem o vinho novo em odres novos.8
Não é a primeira vez que um surge um grupo ou movimento religioso dizendo ser a única e última solução de Deus para o mundo. Não vou mencionar aqui as diversas seitas que já fizeram isso. Mesmo dentro do mundo evangélico, já surgiram vários grupos agindo da mesma forma. Lembro-me de quando morei nos Estados Unidos, estava o em voga o Shepherding Movement (Movimento do Pastoreio), que ensinava um forma de discipulado onde cada novo membro no grupo tinha um líder espiritual, um discipulador, a quem prestava contas de tudo em sua vida. As críticas contra as igrejas eram bem hostis e o movimento também se considerava a última solução de Deus para o mundo. Mais tarde, muitos de seus líderes reconheceram que estavam errados e pediram perdão, publicamente, pelos danos provocados a muita gente.
Lembro-me de que aqui no Brasil, na década de 80,
surgiu um movimento promovido por várias comunidades denominado Novo
Nascimento. Sua ênfase era de que a pessoa, uma vez convertida, não pecaria
mais. E de novo, os testemunhos apresentados nesses movimentos eram muito
parecidos com os de hoje do G 12: “Eu fui membro (ou pastor) de tal igreja,
por tantos anos e não era salvo. Só depois que fiz o G 12 (ou os Encontros) é
que recebi a vida eterna”. Ora, isso é negar um trabalho da graça já
realizado anteriormente na vida da pessoa.
Há alguns
anos, conversei com Dr. Russell Shedd sobre esse assunto e ele me disse que o apóstolo
Pedro não fez distinção entre esses dois termos quando escreveu 1 Pedro
1.23-25. Por favor, veja a seguir:
v. 23: pois fostes regenerados. Não de semente corruptível, mas de incorruptível, mediante a palavra (logos) de Deus, a qual vive e é permanente.
v. 24: Pois toda a carne é como a erva, e toda a sua glória como a flor da erva: seca-se a erva, e cai a sua flor;
v. 25: a palavra (rhema) do Senhor, porém, permanece eternamente. Ora, esta é a palavra (rhema) que vos foi evangelizada.
O G 12 deixa muito a desejar no que se refere ao discernimento doutrinário, pois tem sido grandemente influenciado pelos ensinos anômalos de Peter Wagner e de outros na área de batalha espiritual. Peter Wagner é professor da Escola de Missões do Seminário Fuller na Califórnia, Estados Unidos. Entretanto, seus escritos sobre guerra espiritual, como também os de Rebeca Brown, são inaceitáveis à luz da Bíblia.
O G 12 não
será o último vento de doutrina a invadir o arraial evangélico. Seus líderes
atuais já abraçaram outros modismos no passado e certamente, abraçarão
outros que virão. Por esta razão, deixamos aqui um alerta ao povo de Deus:
Todo líder, igreja ou ministério que se abrem para um vento de doutrina, um
modismo doutrinário ou uma aberração teológica, estarão sempre abertos para
a próxima onda quando aquela já arrefeceu. Que Deus nos ajude a permanecermos
constantes, firmes na Rocha!
1
Milhomens, Valnice, Plano Estratégico
para Redenção da Nação, Palavra da Fé Produções, São Paulo 1999, p.
12.
2
Castellanos, César, Sonha e Ganharás o
Mundo, Palavra da Fé Produções, São Paulo, 1999, p. 78.
3
Milhomens, Valnice, Plano Estratégico
para Redenção da Nação, p. 107.
4
Castellanos, César, Sonha e Ganharás o
Mundo, p. 91.
5
Apostila de Igrejas em Células, p. 55.
6
Apostila de Igrejas em Células, p. 123.
7
Castellanos, César, Sonha e Ganharás o
Mundo, p. 143
8
Milhomens, Valnice, Plano Estratégico para Redenção da Nação, p. 60.
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AGIR, 2000. Proibida a reprodução, sem a autorização da AGIR.